Letras no Asfalto

Letras no Asfalto

1.3.10

Diário de Bordo


Eu, parado na frente do leme. O mar, um pouco revolto e o vento não me consola. O navio por sua vez, segue mais rápido depois de que foi lançada ao mar a carga que impedia a livre navegação. Certos compromissos fazem com que a rota seja triste, pesada e quando em dias de reflexão aguda, desnecessária. Então quando no fim de uma jornada e outra, senão raras às vezes, eis que se abate sobre a nau uma estranha sensação. Não é arrependimento por ter jogado tudo ao mar, não é arrependimento por ter tomado tantos caminhos tortuosos depois disso, não é arrependimento por ter reunido uma tripulação de cães bêbados, muitos menos é arrependimento por ter me jogado em todas as camas gentis de portos inúmeros que infestam a costa, não provém do arrependimento, isto por que a certeza da ação é única. A sensação é estranha e cabe aqui a petulância de imaginar que, nenhum poeta tenha antes destas linhas que seguem, registrado assim, isto de tal forma. Acontece que é sofrimento de ordem humana, e isso nós bem o sabemos, acontece que este sofrimento deveria ter outra essência, uma essência real, porém a sensação é essa... De que tudo o que foi jogado e depositado nas entranhas do oceano, deveria por ordem de importância ser digno de uma marca sutil na carta de navegação, marca explícita somente aos olhos de quem amou de fato, um tesouro real. Onde pelo qual não fosse medido esforços para resgatá-lo, dói o saber do vazio das arcas ocas que afundaram com o peso de chumbo e o apreço de ouro. Eu gostaria que os contratos selados com realeza e sua marinha soberana, tivessem valido o custo desta ilusão para este humilde capitão e sua tripulação de companheiros piratas. Restam-me alguns copos de rum, uma proposta interessante de negócios ao sul, a boa vontade de algumas belas e sorridentes damas que não querem meu compromisso e as velhas palavras que meu bom pai um dia gritou frente a este leme.

‘’... Preparar as Velas, levantar Ancora!’’

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